Na frente, da esquerda para a direita: Georgia Silveira (assistente social) e Amanda Ferreira (terapeuta ocupacional) Atrás, da esquerda para a direita: Aline Ladeira de Carvalho (psicóloga), Ana Flávia Cortopassi (fisioterapeuta), Maria Luiza Barros (fisioterapeuta), Barbara Saraiva (nutricionista) e Gizelle Silva (fonoaudióloga) (Foto: Álvaro Miranda)
Toda semana, a equipe multiprofissional do Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro (HMDCC) se reúne com pacientes e acompanhantes em uma roda de conversa nas áreas de convivência das enfermarias do Hospital para a realização do “Cuidadores Ativos”. O projeto, iniciado em setembro de 2018, tem como objetivo preparar cuidadores e familiares para a alta programada e segura.
Em sua última edição, o paciente Laércio Carlos, 80 anos, pediu a palavra. Prestes a receber alta depois de 23 dias de internação em razão de uma complicação da doença de Chagas, fez questão de se pronunciar. Em pé, declarou, emocionado, a todas as pessoas presentes: “Estou saindo daqui 100%. O trabalho que vocês desenvolvem é muito bom e esse projeto é mais uma demonstração do cuidado de qualidade que prestam aqui. Além do atendimento excelente, ainda temos a oportunidade de esclarecer nossas dúvidas e falar sobre as questões que nos afligem”.
Idealizado pela equipe assistencial do Hospital, que identificou a demanda dos pacientes e familiares que se sentiam despreparados para a alta hospitalar, o projeto atendeu, entre setembro e dezembro de 2018, 191 participantes nas enfermarias da clínica médica.
A todo vapor em 2019, o projeto envolve profissionais da terapia ocupacional, psicologia, serviço social, fisioterapia, fonoaudiologia e nutrição. Questões como alimentação e nutrição enteral, cuidado com os dispositivos invasivos (sondas, drenos, ostomias), posição correta na cama para a alimentação, direitos sociais, hidratação, acolhimento, dependência e reabilitação, nada fica de fora e toda dúvida é acolhida e respondida.
“O Cuidadores Ativos é um projeto coletivo de toda a equipe multiprofissional do Hospital Célio de Castro e tem como proposta o empoderamento e a capacitação dos cuidadores para o manejo do paciente quando ele for para casa e, também, contribuir para diminuição do tempo de internação”, explica a terapeuta ocupacional Amanda Ferreira.”
Isso por que a perspectiva da alta hospitalar gera diferentes sentimentos, inclusive de insegurança, de alguns familiares e cuidadores, o que pode retardar a alta. Dessa forma, é necessário um planejamento para a desospitalização segura e eficiente. “Com esse foco, cada profissional, de acordo com a sua área de conhecimento, faz orientações que considera mais pertinente sobre os temas que os cuidadores demandam mais respostas ou que a própria equipe acredita que eles precisam de orientação. Também abrimos espaço para o esclarecimento de dúvidas sobre assuntos que não foram abordados”, detalha Amanda.
Para a terapeuta ocupacional, viabilizar o melhor entendimento do familiar sobre os cuidados que o paciente precisa gera confiança, participação ativa e a compreensão das alterações no paciente. Com isso, também ajuda o profissional de saúde a captar a percepção do familiar sobre o processo saúde-doença.
Diretora executiva do Hospital Célio de Castro, Maria do Carmo explica que o projeto é uma das inovações tecno-assistenciais do Hospital com foco na humanização e no cuidado centrado no usuário. “Trata-se de projeto que inclui o paciente e seu familiar no processo do cuidado trazendo como resultado mais autonomia, menor dependência dos serviços de saúde e menor risco de reinternação. Dessa forma, reconhece o paciente e familiares como detentores de saberes e potencialidades que exigem apenas o apoio de profissionais de saúde para o seu exercício”, diz.
Retornos positivos
Simone dos Santos, 42 anos, é filha e acompanhante da paciente Maria Elena Bento dos Santos, 68, que precisou ser submetida a uma cirurgia de amputação em razão de um quadro de diabetes descompensada. Além de ter que lidar com a tristeza da mãe, Simone também se sente apreensiva com a alta hospitalar. Entretanto, depois de participar do projeto Cuidadores Ativos e compartilhar suas angústias, perceber situações semelhantes e ter uma oportunidade para aprofundar em suas dúvidas, resume: “Esse projeto é muito importante, bom seria se tivesse muitas vezes mais”.
A terapeuta ocupacional Amanda Ferreira reforça que os retornos são sempre positivos.
“No dia do projeto, toda quarta-feira, a equipe passa de leito em leito
convidando os familiares e os pacientes. Quem participa agradece, surgem dúvidas
realmente interessantes e percebemos que as informações contribuem para um
cuidado mais efetivo”, observa.
Além disso, a participação no “Cuidadores Ativos” é uma oportunidade de descoberta de que o paciente pode realizar atividades no Hospital durante o período de internação como desenho, bordado e música, por exemplo. Foi o caso de Diego Flávio do Prado, 30 anos. Em novembro do ano passado, veio transferido da cidade de Sarzedo e, no Hospital Célio de Castro, foi diagnosticado com meningite.
No processo de reabilitação motora, manifestou à terapeuta ocupacional a vontade de resgatar o cavaquinho. O desejo do músico se mostrou uma oportunidade e tanto de fazer do tratamento um prazer. E assim, antes de receber alta do Hospital, transformou a roda de conversa do “Cuidadores Ativos” em uma roda de samba em que cantou ao lado do seu pai e de outros pacientes e acompanhantes.
Amanda Ferreira relata que “para os profissionais da saúde, o projeto é uma
chance de potencializar o cuidado com os pacientes, de termos o cuidador com um
parceiro que vai seguir as orientações e se manter atendo às questões que podem
comprometer a saúde do paciente. É também uma forma de oferecer ao nosso
paciente um cuidado diferenciado”, conclui.
Ao final de toda edição do “Cuidadores Ativos” os participantes têm espaço para fazer uma avaliação do grupo e dar sugestões. “O nosso desejo é poder aprimorar o projeto cada vez mais”, explica a terapeuta ocupacional.