Foram oito minutos da casa de Iracema Nascimento Tavares, 79 anos, ao Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro. “Quando minha mãe chegou, os médicos estavam do lado de fora, na porta, esperando por ela, que foi atendida imediatamente”, conta Regina Célia Martins da Costa, 49 anos.
A ligação para o SAMU ocorreu logo depois que a filha percebeu os sinais de um possível Acidente Vascular Cerebral (AVC): boca torta, voz embolada, fraqueza nas pernas. “Eu tentei colocar minha mãe de pé e as pernas dela não respondiam. Pedi para ela segurar minha mão e ela não tinha força”, relembra Regina. Ela e o irmão cogitaram colocar a mãe em um carro para levá-la a um hospital particular, já que a família tem plano de saúde, mas se lembraram das orientações dos irmãos que são enfermeiros – “acionar o SAMU em caso de AVC”.
A decisão correta viabilizou a completa recuperação de Dona Iracema. Assim que chegou ao Hospital Célio de Castro, em 19 de fevereiro, uma equipe multiprofissional, composta de médico neurologista, enfermeiro, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, assistente social, psicólogo e técnico de enfermagem, além de um parque de exames de imagem com tecnologia de ponta, a aguardavam. “A paciente foi imediatamente submetida a uma tomografia para confirmação do diagnóstico e, na sequência, à trombólise”, afirma a médica neurologista e responsável técnica pela Unidade de AVC do Hospital Célio de Castro, Barbara Arduini.
Resultado que dá orgulho
Em 15 meses de funcionamento, a equipe celebra a realização de 100 trombólises no Hospital do Barreiro, como também é conhecido. “A trombólise é um procedimento no qual injetamos um medicamento na veia do paciente com suspeita de AVC para desobstruir a artéria entupida por um coágulo com o objetivo de que o sangue volte a circular novamente no cérebro para reverter os sintomas do AVC”, explica Barbara Arduini.
Médico neurologista do Hospital Célio de Castro, Álvaro Costa salienta que não são todos os pacientes que têm indicação para a trombólise. Por isso, a realização da tomografia é essencial para definição do melhor tratamento. “O que vemos é uma média que varia entre 1/3 e 1/4 dos pacientes com AVC que podem receber o medicamento da trombólise”, explica.
Em casos de AVC hemorrágico (quando o sangramento ocorre dentro ou ao redor do cérebro), que representam 20% dos casos, não há indicação de trombólise. No AVC isquêmico (quando um coágulo bloqueia o fluxo sanguíneo para uma área do cérebro), também existem algumas contraindicações, como, por exemplo, AVC ou infarto agudo do miocárdio nos últimos três meses, neurocirurgia prévia, trauma grave no crânio, cirurgias de grande porte realizadas próximas ao episódio de AVC. Ou seja, não são todos os pacientes que têm AVC e chegam rápido ao hospital que podem receber o medicamento (trombólise).
Sucesso do tratamento
A realização da trombólise em menos de quatro horas e trinta minutos a contar do aparecimento dos primeiros sinais é de extrema importância para que o paciente não tenha sequelas. Além disso, de acordo com a médica neurologista, a reabilitação precisa ser iniciada nas primeiras 72 horas após o aparecimento dos sintomas. Todo esse esforço para que o paciente tenha um bom desfecho nos primeiros três meses após o AVC.
Dona Iracema é uma das usuárias da Rede SUS-BH beneficiada pelo atendimento completo recebido na Unidade de AVC do Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro. “Oferecer a trombólise em tempo oportuno é a melhor tentativa que podemos oferecer ao paciente para reverter uma doença grave em instalação como o AVC. Além disso, são poucas as doenças com possibilidade de reversão quando se iniciam. Com a trombólise damos a chance de paciente se manter independente e funcional”, ressalta Arduini.
Para a médica, a realização da trombólise número 100 com 15 meses do início do serviço de neurologia no Hospital Célio de Castro “é uma vitória por mostrar a evolução da equipe, nosso desempenho e esforço”, diz.
O número representa também a consolidação do Hospital Célio de Castro como referência em Minas Gerais para realização de trombólise. “Mostra também um processo de interação com as UPAs, hospitais da região metropolitana e SAMU, já que dependemos dessa relação para conseguirmos, com agilidade, atender esses pacientes que estão aptos a receber a trombólise”, explica. Para Barbara Arduini, no entanto, “o que é mais significativo para toda a equipe é a chance dada ao paciente de continuar independente para seguir sua vida”.
Dona Iracema e seus 12 filhos agradecem. “Apesar de sermos moradores do Barreiro ainda não conhecíamos o Hospital. O atendimento é excelente. Toda a equipe é atenciosa. Minha mãe já começou a reabilitação e está se recuperando muito rápido”, diz Regina. A mãe faz coro: “estou gostando muito do Hospital”, mas confessa: “não vejo a hora de ir para casa”. Mas também, lá, na casa onde vive com dois filhos e uma neta, tem terreiro e um “sol delicioso que bate no quintal”, descreve.
Sem fila para a trombólise
Desde a sua inauguração, no final de 2017, a Unidade de AVC do Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro ampliou o acesso à trombólise e, segundo a Central de Internação de BH, acabou com a fila de urgência para atendimento especializado nesses casos. “Nós, como a maior Unidade de AVC de Minas Gerais, acabamos com as filas de um tratamento que deve ser ágil já que estudos evidenciam melhores resultados com a reabilitação precoce, que deve ocorrer dentro das primeiras 48 a 72h do AVC”, reforça Barbara Arduini.
Com o serviço consolidado, a meta agora da Unidade de AVC do Hospital Célio de Castro “é divulgar o serviço para a população e toda a equipe da área da saúde do município de Belo Horizonte para que os pacientes consigam chegar até nós”, afirma a médica neurologista.
No ano de 2018, o Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro atendeu a 1.018 casos de AVC.