Funcionárias do HMDCC participam de campanha (Foto: Luiz Felipe Matiazzi)

Questão de saúde pública, a violência contra a mulher é tema de uma ação do Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro para celebrar o Dia Internacional da Mulher. Você sabe quantas mulheres morrem por ano no Brasil simplesmente por serem mulheres? E quantos estupros coletivos acontecem por dia no Brasil? Você imagina quantas crianças já viram a mãe ser agredida dentro de casa? E o percentual de mulheres que já foram assediadas no transporte público? Como esses números impactam a saúde pública?

De 5 a 9 de março, funcionárias e funcionários do Hospital foram interpelados por essas e outras questões com o objetivo de promover a discussão sobre a prevenção da violência contra a mulher e a promoção da saúde.

O resultado dessa ação é uma campanha interna, protagonizada pelas próprias funcionárias, em que os números da desigualdade de gênero e da violência sexual serão apresentados em um painel de fotos em que as profissionais participantes seguram cartazes com as estatísticas da realidade brasileira.

Pensar a violência sexual enquanto questão de saúde não se trata apenas de abordar as situações de risco às quais uma vítima se enquadra – contaminação por Infecções Sexualmente Transmissíveis ou gravidez indesejada –, mas de considerar toda a complexidade de demandas da vítima e refletir sobre como a cultura do estupro naturaliza comportamentos violentos.

A estagiária de design, Albanusa Costa, 29 anos, é uma das funcionárias que irá participar da campanha e escolheu abordar o tema da violência contra a mulher na universidade. Pesquisa de 2015 intitulada ‘Violência contra a mulher no ambiente universitário’ revela que duas em cada três universitárias brasileiras já sofreram algum tipo de violência (sexual, psicológica, moral ou física) no ambiente universitário. “Quando eu tive conhecimento dessa informação, fiquei incrédula. Mas aí, parei para pensar: tenho uma amiga muito próxima que foi vítima de abuso sexual dentro da minha faculdade”, afirma.


Albanusa Costa (Foto: Luiz Felipe Marazzi)

A estudante diz desejar que todas as pessoas vejam e conheçam os números da violência contra a mulher. “Essas informações não são divulgadas pela mídia, mas estão presentes no nosso dia a dia. Eu escuto relatos de assédio e violência contra a mulher no ônibus, na faculdade, na rua”, salienta.

Para Albanusa, que está envolvida diretamente na campanha, o momento mais impactante nesse percurso foi quando soube da morte de uma paciente que deu entrada no Hospital Célio de Castro na semana que antecedeu os preparativos dessa ação. “Fiquei muito comovida e abalada de pensar que uma menina de 18 anos morreu assassinada pelo marido no dia do aniversário”, relata. Em 22 de fevereiro, o Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro recebeu uma adolescente vítima de enforcamento que foi internada no CTI e faleceu quatro dias depois.

Para ela, o mais significativo dessa experiência no ambiente profissional é o contato com as mulheres, a aproximação e a possibilidade de compartilhar histórias. “Que o Dia 8 de março seja uma data para que as mulheres fiquem alertas, atentas e se sintam fortes para denunciar qualquer tipo de violência”, sintetiza.

Ainda na celebração da Semana da Mulher no Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro aconteceu uma sessão de cinema em que será exibido o longa-metragem ‘Estrelas Além do Tempo’, de 2017. O filme de Theodore Melfi narra a história das matemáticas afro-americanas que ajudaram a Nasa a levar os primeiros homens ao espaço.

Oficializado em 1975 por um decreto da ONU, a existência do Dia Internacional da Mulher foi motivada por fortes movimentos de reivindicação política, trabalhista, greves e passeatas com protagonismo feminino. O Dia 8 de março é uma data política que destaca o protagonismo das mulheres em sua própria história social e política.


Liderança feminina

O Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro, em Belo Horizonte, se destaca pela quantidade de mulheres em funções de coordenação, gerência e diretoria. Dos 35 cargos de gestão do Hospital, sete estão sob a responsabilidade de homens e 28, de mulheres. Desses 35 postos de trabalho, cinco são gerências e apenas uma dessas posições é ocupada por homem. Além disso, dos quatro cargos de diretoria, três são ocupados por mulheres.

A liderança principal da instituição, na função de diretora executiva, é missão de uma mulher, Maria do Carmo, médica, doutora em Administração pela Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG e com trajetória de 30 anos de dedicação na área de saúde pública.