Renato Xavier com a estudante Marina Paixão. Foto: Álvaro Miranda

“Estou me sentindo muito bem cuidado”, resume Renato Xavier, 71 anos, admitido no Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro em 15 de março. Ele é um dos 220 pacientes da clínica médica que desde o início de 2019 tem recebido além dos cuidados de médicos, enfermeiros e profissionais da equipe multidisciplinar o olhar atencioso e curioso de estudantes que passaram a atuar no Hospital. Apesar de ter iniciado as atividades em agosto de 2018, é neste ano que o Núcleo de Ensino, Pesquisa Extensão (NEPE) ganha corpo com a previsão de integrar à equipe assistencial 489 estudantes entre técnicos, graduandos e residentes provenientes de outras instituições, mas que têm como cenário de prática o Hospital Célio de Castro.    

Casado com Maria Lúcia Rosa de Souza, sua companheira há 50 anos – as bodas de ouro serão celebradas em 2020 -, Renato já teve dois acidentes vasculares cerebrais (AVC), um infarto e enfrenta o início da doença de Parkinson. “Há anos vivo rodando em hospitais com ele. Aqui é nota 10 em tudo, em organização, no tratamento dos médicos, dos enfermeiros e de todas as outras especialidades. Pela primeira vez na minha vida, ontem deixei ele sozinho no Hospital para dormir em casa, estava com muita dor nas costas. E eu só dormi tranquila porque não tenho nada a reclamar e sabia que meu marido ficaria bem cuidado. Cheguei hoje pela manhã e ele já estava trocado e as enfermeiras estavam dando banho nele”, relata a esposa.

Referência de Renato e de sua esposa no Hospital Célio de Castro, a estudante do 6º ano de medicina da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais, Marina Paixão de Madrid Whyte, observa o quanto é complementar a atuação do estudante dentro do Hospital na atenção ao paciente. “Percebo que, em algumas situações, os pacientes se sentem mais à vontade em fazer algumas perguntas pra gente e até mesmo desabafar. Como temos tempo livre para essa escuta eles falam dos sentimentos e conseguimos ver na prática a importância do vínculo com o paciente que vai possibilitar um tratamento mais integrado”, diz.


Yara Barbosa. Foto: Olavo Maneira

Diretora Assistencial, de Ensino e Pesquisa do Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro, Yara Barbosasalienta que a presença de estudantes e residentes traz para o cotidiano do ambiente hospitalar a “inquietação” da mente em busca do saber. “Consequentemente instiga todos os profissionais envolvidos a se aprimorarem na sua técnica e na sua ética diária. São elementos que trazem porosidade à instituição e a mantém “viva” na busca dos melhores e efetivos recursos a serem aplicados no cuidado aos usuários do hospital”, reforça.

Doutora em neurociências pela UFMG e referência técnica do NEPE, Aline Mansueto Mourão reforça o benefício da prática do ensino e pesquisa no ambiente hospitalar e para a formação do profissional de saúde. “Muito questionador, o estudante interroga e proporciona aos profissionais da instituição conhecimento, atualização de serviços, o exercício da assistência baseada em evidências científicas, além de condutas mais atualizadas”, pontua.

Além disso, segundo Aline Mourão, a inserção do acadêmico e do residente proporciona uma dupla checagem do paciente. “Ele é visto pelo profissional e, posteriormente, pelo acadêmico o que torna a assistência mais eficaz, mais segura e com mais qualidade. Com esse segundo olhar, o olhar jovem que vem da academia, o Hospital tem a oportunidade de melhorar o raciocínio clínico de seus próprios profissionais”, completa.



Da esquerda para a direita: Mariana Martins, Marcel Medeiros, Karina Prado (centro) e Marina Paixão (Foto: Álvaro Miranda)



Aprendizado com confiança
Colega de turma de Marina, o estudante Marcel João Medeiros afirma que a experiência do estágio no Hospital tem sido muito rica. “Estamos sendo muito bem inseridos pelos profissionais da assistência no cuidado ao paciente e nos processos de trabalho. A equipe é disponível para o esclarecimento de dúvidas e para a discussão dos casos”, diz. Marina Paixão de Madrid Whyte concorda: “a sensação que muitas vezes temos de ‘aquele estudante dando palpite no meu paciente’ não sentimos aqui”, afirma.

Mariana Martins Grassi Sedlmaier também é acadêmica da Faculdade Ciências Médicas e assim como Marina e Marcel, iniciou o internato de clínica médica em 11 de março. Na sequência, os três passarão para o internato de cirurgia no Hospital Célio de Castro. “Os médicos que atuam no Hospital e são nossos professores são muito bons, todos dedicados e empenhados não só em transmitir a parte médica, mas também a abordagem do vínculo”, afirma.

Os depoimentos são para a médica do Hospital Célio de Castro e professora da Faculdade Ciências Médicas, Karina Paula Medeiros Prado Martins, o melhor retorno que poderia receber. “É muito gratificante presenciar um aprendizado da medicina no qual eu acredito, de assistência com qualidade, segurança, humanização e vínculo”, pontua.

Para ela, toda a equipe do Hospital, incluindo diretoria, setores administrativos e profissionais da assistência, está empenhada em acolher e receber o ensino e pesquisa como valor e missão da instituição. “Pra gente que gosta e acredita na importância de se investir em ensino é maravilhoso vivenciar essa integração”, observa.

Karina acredita que a prática do ensino no ambiente hospitalar proporciona ainda benefícios para o paciente. “A gente percebe que cada paciente é olhado duas vezes. Tudo que é feito e repetido a chance de erro é menor e a chance de uma melhor conduta é maior. Além disso, existe o critério da humanização, temos alunos que querem muito aprender sobre a relação médico-paciente. Essa tem sido uma experiência muito rica para o Hospital, para os alunos e para o paciente”, resume.


Aline Mourão, RT do NEPE. Foto: Álvaro Miranda


Próximos passos
“Seria ótimo se abrisse residência aqui”, sugere Marina Paixão. Marcel, que almeja a residência em clínica médica, compartilha do desejo da colega. “Já passei por outros hospitais, mas me deu vontade de fazer residência aqui, onde o controle de qualidade é melhor, tudo funciona, o paciente tem acesso fácil e rápido a exames laboratoriais e de imagem e o sistema de prontuário eletrônico é excelente com todas as informações do paciente em um único lugar”, diz.

Mariana completa: “é uma experiência que vem superando as nossas expectativas. Somos o segundo grupo de acadêmicos da Faculdade Ciências Médicas aqui no Hospital e nossos colegas já haviam elogiado muito o trabalho desenvolvido aqui. Mesmo assim, fomos surpreendidos”.

A previsão é de que em 2020 o Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão (NEPE) do Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro inicie seu programa de residência. “O ensino e pesquisa são valores para o Hospital. A instituição que compreende que ao ensinar e ao pesquisar aprimora-se a forma de trabalhar é capaz de se renovar e se reinventar continuadamente buscando atingir melhores níveis de assistência ao paciente”, conclui a diretora Yara Barbosa.


Foto: Álvaro Miranda

O NEPE
O Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão (NEPE) do Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro iniciou suas atividades em agosto de 2018 e tem como missão promover condições para a prática baseada em evidência e a atuação multiprofissional integrada e atualizada de forma a ofertar um cuidado de qualidade, com segurança e eficiência aos usuários do SUS.

O NEPE já firmou parceria com importantes serviços e universidades na cidade, além de ser cenário para o desenvolvimento de pesquisas. Atualmente, as instituições conveniadas são o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG/EBSERH), a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG), o Hospital Metropolitano Odilon Behrens (HMOB), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG) e a Escola Estadual Celso Machado.

O Hospital Célio de Castro é cenário de prática nas especialidades de ortopedia, urgência e emergência, cirurgia geral, anestesiologia, infectologia, psiquiatria, gestão hospitalar, clínica médica e técnico em enfermagem.No ano de 2018, o Hospital recebeu cinco propostas de pesquisas e aprovou três trabalhos do Cefet, UFMG e UFOP. Neste ano, passou a integrar também uma pesquisa multinacional. O estudo intitulado “VASCULAR” é uma pesquisa de prevalência sobre uso, avaliação e manuseio de cateteres intravenosos periféricos em hospitais da América Latina e o Hospital Célio de Castro foi um dos locais escolhidos.

“Entre os projetos para o futuro está a implementação da residência médica e multiprofissional de forma integrada. Ou seja, os residentes de medicina e os residentes da equipe multiprofissional terão disciplinas em comum e vão atuar juntos no cenário de prática possibilitando que discutam o mesmo caso clínico perpassando a rede de atenção à saúde de forma integrada. Será um diferencial em relação aos outros programas que têm em Belo Horizonte”, explica a referência técnica do NEPE, Aline Mansueto Mourão.

Aline salienta ainda que é importante que o ensino e pesquisa seja uma temática de valor não apenas para os cenários de prática acadêmica, como, por exemplo, os hospitais. “É fundamental que este seja um valor de integração permanente entre a rede da saúde e a educação”, conclui.