Foram produzidos 30 convites em formato de tangram (Foto: Álvaro Miranda)

Na última semana, profissionais do HMDCC receberam um convite bem especial, feito por pacientes, para integrar a equipe do Núcleo de Segurança do Paciente (NSP) que investiga os eventos adversos.

Idealizada pela Assessoria de Comunicação do Hospital a pedido da coordenadora do NSP, Fernanda Carvalho, a ação, que teve como parceira a terapeuta ocupacional Amanda Ferreira, resultou na confecção de 30 jogos de tangram, um tipo de quebra-cabeças geométrico, originário da China, que consiste na formação de figuras e desenhos por meio de sete peças.

A reação ao convite não poderia ter sido melhor, veja algumas:

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“Tem dedo seu nesse convite?”. Foi dessa forma que Amanda Ferreira foi abordada por colegas de Hospital. “Elas estavam todas emocionadas, acharam de uma delicadeza muito grande, muito criativo e lúdico”, afirma.

Produção de sentido
A emoção também tomou conta dos pacientes. Segundo Amanda, as Oficinas Terapêuticas, além de serem uma atividade que estimula o desenvolvimento motor e cognitivo, no caso da produção desses convites, os pacientes realizaram algo com um fim para dentro do Hospital e que outras pessoas vão ver, o que estimula também o senso de competência e autoestima.

“Eles ficaram muito felizes de ver que estavam tendo esse envolvimento com a instituição, que eles não estavam aqui só como objeto de doença, mas que estavam participando dos processos do Hospital. Fizeram questão de ler o conteúdo do convite e de expressar a admiração por estarem participando de uma Oficina aqui dentro, algo que disseram nunca ter visto em outros hospitais”, relata.

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Tema livre
Amanda Ferreira optou por deixar o tema do desenho livre. “É comum acontecer nas oficinas, quando o desenho é livre, que o paciente traga algo que é muito importante da rotina dele. Um dos principais impactos de uma hospitalização é justamente o rompimento com a rotina. Dessa forma, o paciente geralmente expressa algo que está sentindo muita falta ou algo que é muito significativo para ele”, observa.


Cada desenho, uma história (Foto: Álvaro Miranda)

Caso do paciente Wagner Fernandes da Cruz, internado no HMDCC em razão de uma pneumonia. Natural da Bahia, mas morador de Minas, Wagner é vendedor de frutos do mar. Com saudade de pescar, desenhou o seu retorno ao trabalho.

Já Adriele Dias Ferreira, uma jovem de 19 anos, decidiu que seu tema seria a segurança do paciente. Por isso, desenhou uma médica que, segundo ela, simboliza proteção, cuidado e confiança.

A terapeuta ocupacional destaca a história de um dos participantes que não terá o nome divulgado para preservar sua identidade. É um exemplo que, para Amanda, retrata o benefício da Oficina Terapêutica para além dos aspectos motor e físico. “É um paciente que tem uma rotina extremamente ativa, trabalha em três lugares, e é dono de um restaurante em Sabará, parece funcionar dentro de uma fazenda. Ele contou que é um ex-usuário de álcool que conseguiu restabelecer a própria vida e que estava internado por pancreatite. Interessados em sua história, outros pacientes pediram o endereço do restaurante e o grupo combinou que o visitaria”, narra.

Para ela, um dos aspectos importante das Oficinas é se transformar em um momento para os pacientes processarem tudo o que estão vivendo. “A hospitalização dá angústia mesmo e dá saudade. Mas poder falar disso, poder expressar e ser ouvido diminui a ansiedade e possibilita inclusive uma melhor vinculação com o tratamento e uma melhor resposta à medicação porque baixa o nível de estresse”, pontua.

Amanda Ferreira diz estar duplamente grata: “por ter podido participar produzindo os convites e por ter sido convidada. Quando eu recebi o meu tangram meus olhos se encheram de lágrimas, foi de um paciente que não conseguiu finalizar o desenho porque passou mal no dia. É um paciente esquizofrênico e a minha grande paixão é a saúde mental. Com certeza, o convite é irrecusável”.